terça-feira, 10 de junho de 2008

Entrevista com Miran, designer gráfico e editor da revista “Gráfica” - Arte Internacional - por Felipe Stanque Machado Junior

Quem sou eu: Oswaldo Miranda (Miran), designer gráfico, reconhecido no Brasil e com reputação internacional comprovada, basta acessar a pesquisa “Google” para confirmar veracidade, digitando na busca: “Miran (Oswaldo Miranda)” ou Designer Miran ou Cartunista Miran (Oswaldo Miranda). Mas estou aqui, para receber e responder recados de pessoas interessadas em meu trabalho gráfico e cartuns. Deixo recados para visitarem os meus “blogs” e ter uma interação legal...
É assim que Miran se apresenta no site Orkut desde abril deste ano. Para felicidade e deleite dos apreciadores do trabalho deste multitalentoso designer, Miran busca maior contato com seus fãs por meio da Internet. Além do canal pelo Orkut, expõe parte de sua vida e obra em seus blogs sobre ilustração, cartuns, design e, claro, sobre a revista Gráfica - Arte Internacional.

Segundo Miran, ele faz a postagem nos blogs com breves comentários para que os interessados possam conhecer ou rever trabalhos de relativa importância com uma espécie de informação quase didática. "Longe de mim, tentar um tom 'professoral'", afirma. "Pois então, estou começando a me familiarizar com as ferramentas do Blog para trabalhar. Perco um pouco de tempo 'caçando' as imagens e escaneando algumas que não estão no meu arquivo de imagens do PC. No dia da atualização, vou colocando tudo meio intuitivamente. Como estou misturando as peças, não me preocupo muito com a "atualidade" delas não, me preocupo mais, em fazer um leve comentário. Comentário até bem descontraído, assim como faço com os títulos das postagens dos cartuns."

Iniciativas deste tipo eram esperadas por seus admiradores há tempos! De Miran o que não falta é produção para se montar uma grande exibição virtual. Na ânsia de compartilhar maiores informações sobre o trabalho e a vida dele, em 2004 criei no Orkut a comunidade “Fãs do Oswaldo Miranda -Miran”. Felizmente a comunidade deu certo e, por meio desta, Bellysa, filha de Miran, acabou me conhecendo e intermediou o convite para a entrevista que apresento nas próximas linhas.

Eu e alguns alunos de design editorial, do Curso de Design da ULBRA no campus de Carazinho, RS, formulados algumas perguntas que foram rapidamente respondidas por e-mail. Antes de responder, Miran já avisava que não economizaria nas palavras. Realmente, para nossa satisfação as respostas não foram curtas! É um enorme prazer saber um pouco mais sobre o mais renomado designer gráfico do país. Além de ser uma referência muito importante, Miran é um ídolo para muitos, não só no Brasil. Registro aqui meu agradecimento a Miran pela solicitude e pala maneira tão gentil como conversou conosco.

Uma boa leitura!
Felipe Stanque



Augusta S. Citron - Qual foi o primeiro trabalho que se tornou conhecido, abrindo definitivamente as portas para o crescimento profissional?
Sem dúvida, o trabalho que realmente me deu notoriedade foi a direção de arte do jornal “Raposa” (hebdomanário de cultura e humor insertado a cada dois domingos do mês no jornal “O Diário do Paraná”, 1976-77), com o qual ganhei várias medalhas de ouro e prata no Clube de Criação de São Paulo (CCSP) [em 1977], fazendo com que o júri por unanimidade, reservassem um caderno “Ouro” especial, para o meu trabalho. Fato único em toda a história do CCSP. Lembre que eu era um paranaense, portanto fora do eixo São Paulo-Rio, e o grande número de medalhas naquele ano me fez desbancar todas as estrelas do momento e chamar a atenção do mercado. A “Raposa” teve dois períodos: como encarte no Diário do Paraná, no início dos anos 70, e finalmente em 1981-83, como veículo cultural da Fundação Cultural de Curitiba. [Miran ainda reforça que em 1976 recebeu duas medalhas de prata no CCSP pelo “Jornal de Humor” publicado no Diário do Paraná entre 1974/75].

André Gehlen Ferrari e Ana Claudia G. Pinto - Miran, quais são seus principais clientes hoje?

Os meus principais clientes hoje são a Posigraf (faço todo o material institucional). Embalagens, materiais para workshops e produtos especiais da gráfica Posigraf (somente materiais para a mídia impressa), SESC São Paulo e Piracicaba (para uma gama de eventos e exposições anuais) e a Dynamic Graphics, Inc. USA (com a qual tenho contrato vitalício, assinado em 1983). No caso da Dynamic, a minha produção concentra-se na ilustração.
André Gehlen Ferrari - Que tipo de trabalho você prefere fazer? André, o meu trabalho preferido é mesmo para a área editorial. Eu quase repito aqui, a resposta que dei em uma entrevista para a revista “ARC-Design”. É que o editorial pede um clima, um tratamento específico, dependendo do apelo que o texto exige (diferentemente do material impresso para estúdios e agências onde o marketing exige outro tipo de comportamento e análise) e posso utilizar com bastante ênfase aquilo que mais domino: ilustração e tipografia. Gosto de trabalhar até mesmo com a ilustração de terceiros, pois vejo o diretor de arte (especificamente na área editorial) como um diretor de cinema. Organizando os elementos, fazendo uma espécie de coreografia e se preocupando com o enquadramento das fotos. Muitas vezes, na paginação de um livro ou numa seqüência de um ensaio em revista, eu utilizo uma linguagem quase cinematográfica, dando o ritmo próximo o da edição de um filme. Planejo a ampliação ou a redução da imagem, o que deve ficar em primeiro plano até, aquilo que deve merecer um “close-up”. Ou por que não, um “zoom-out”?

Ana Claudia G. Pinto - Com o que você mais se identifica no seu trabalho?
Com a tipografia. Antes de começar qualquer trabalho gráfico, o meu vício é pensar tipograficamente. Seja para a construção de um logotipo, para o título ou a imagem de um cartaz ou para o layout da capa de um folder. Mesmo até, que eu resolva tudo diferentemente dos meus esboços iniciais. É muito comum jogar os primeiros estudos fora. Faço tudo em miniatura no papel. Quando decido pela tipografia vou em seguida para o PC e faço testes como funciona esta ou aquela fonte dentro do meu raciocínio. A única coisa que faço realmente sem a tipografia vir em mente, é o cartum.

Ana Claudia G. Pinto - Se fosse outro designer, qual gostaria de ser?
Esta sua pergunta é capciosa. Eu vou responder tentando fazer graça. O Milton Glaser seria um profissional que eu gostaria de ser ou ter igual talento. Ele é ótimo designer, pintor, ilustrador, ceramista, tipógrafo. Cozinha bem e é um sujeito alto. Mas, pena que é “careca”... Mas a minha tendência seria mesmo ser como o meu sponsor, Herb Lubalin. Envolvido sempre com a tipografia e a arte editorial. E o mesmo sonho: fazer revistas. [Milton Glaser na Gráfica #56]

Larissa Berwig - Você acredita em inspiração e no “branco” na hora da criação? Acontece com você?
Olha Larissa, eu não acredito em inspiração. Acredito sim, no “branco”. Você sabe que a inspiração é na verdade a informação que v. tem. Por isso, quanto mais velho você for, mais rápida vem a solução ou a “inspiração”, pois você já passou por problemas como aquele, já enfrentou dificuldades quase parecidas. As coisas parecem fluir mais fáceis a cada dia que passa. Isto é “batata”, para nós designers, para um arquiteto ou para um redator (para o qual, a informação é também, a sua fonte de inspiração) que não precisa ser escolado, mas para ter a inspiração sem dúvida, deve ler muito primeiro. Agora, o “branco” existe para todos e faz parte daquele “pedaço de insegurança” que todos nós temos. Não sei explicar em que parte do cérebro ele fica. Eu enfrentei o “branco” de forma mais forte quando me convidaram para fazer a identidade do NovoMuseu. A verdade é que quando fui para a reunião de fato, tinha quase certeza (pelos contatos anteriores) que o nome do museu seria Museu de Arte do Paraná (MAP) ou Museu Oscar Niemeyer (MON). Quando o Jayme Lerner veio com o “Novo Museu” (eu é que juntei as duas palavras: NovoMuseu) toda a construção tipográfica que eu havia criado mentalmente, desmoronou. E como havia muita pressão, muita cobrança antecipada, pois todos diziam que eu iria fazer um trabalho ímpar, as “letrinhas” das imagens que eu já havia construído, caíram quase que, literalmente no chão. Me deu o branco, não via a hora de sair da reunião. Cheguei até, a pensar em recusar o trabalho. Mas no dia seguinte, a experiência, a escola do dia-a-dia falou mais alto.

Felipe Stanque - A revista Gráfica tem uma trajetória heróica em função dos obstáculos que conseguiu superar. Como foi manter a gráfica nos momentos mais difíceis da revista, em meados da década da 90?
Ainda nos anos 90, até 1994-95, o patrocínio do banco Bamerindus assegurou uma certa periodicidade. Havia alguns atrasos na entrega da revista, por uma falta de respeito do fornecedores. Como já sabiam que o patrocínio estava no fim e o pagamento deles assegurado, não se preocupavam mais em me agradar. E olha, um desses fornecedores ingratos foi a Pallotti, do Rio Grande do Sul. Entregaram a “Gráfica” #42 (toda em preto e branco), praticamente impressa em papel jornal. Foi de amargar! Da edição # 45 até a # 51, foi uma mistura artesanal (serigrafia, Xerox 9500 com offset intercalada). Exceção da # 49, que fiz luxuosa com “luva” (4 capas), papel vegetal, postais encartados. Esta edição foi em homenagem ao David Carson que estava arrebentando no mercado. A minha sobrevivência foi através da tiragem limitada destas edições vendidas como livros de artistas plásticos. Numeradas, encarte com o nome do comprador etc. e graças as ilustrações que eu vendia para a Dynamic Graphics.

Felipe Stanque - Como foi a concepção e o início da Gráfica? É verdade que você vendeu o carro para dar vida a este projeto?

A revista nasceu quase como para compensar duas “tragédias” pessoais: a morte do Herb Lubalin que foi para mim, um baque emocional e me fez desinteressar de ingressar no suplemento dominical do New York Times em 1981, e da atitude da minha esposa que forçada pela família, se negava a mudar-se comigo definitivamente para os Estados Unidos. Resolvi aproveitar os contatos que tinha feito com as pessoas indicadas pelo Lubalin e com as prints e materiais impressos que eu havia ganhado dele, do Daniel Pelavin, Fernando Medina, Lou Dorfsman, Alan Peckolick e do Mo Lebowitz (impressão em wood type) para montar a primeira exposição internacional de arte tipográfica no Brasil, a “Grafia”. Que realizei por três anos consecutivos na Galeria Acaiaca (no Largo da Ordem), em Curitiba. Como os participantes exigiam um certificado e um catálogo da exposição, me comprometi a compensar publicando-os em seguida, na revista que planejava fazer: a “Gráfica”. Sim, realmente vendi o meu carro - marca: “Puma” ('80), um terreno à beira do mar na “Praia de Leste”, litoral paranaense e o terreno onde ia construir a minha casa no Jardim Monte Parnasse. Não preciso explicar que a minha esposa não amou muito a estréia da Gráfica em 1983. Ela só passou a reconhecer a importância e a compensação profissional de fato, um ano depois da revista ser lançada. (Explico: Lubalin é que me apresentou para o Diretor de arte Louis Silverstein, responsável pela contratação de profissionais para o departamento de arte do New York Times e prometera envolvimento pessoal e orientação profissional no desenvolvimento da nova “cara” que poderíamos dar ao suplemento dominical. Acontece que poucos meses depois de toda a troca de informações e preparo dos papéis para a minha mudança definitiva, Lubalin faleceu).

Lucas Vogelmann - Além da Revista Gráfica, há algum trabalho seu que seria, de certa forma, um favorito?

Sim Lucas, o meu trabalho favorito é todo o desenvolvimento da identidade visual do NovoMuseu, os designs de produtos, livros e catálogos que estava preparando para as exposições que chegaram e para outras que estavam por vir. Uma delas, só para a sua informação, era uma idéia minha, seria montada no grande pátio denominado “Jardim das Esculturas”, uma réplica da casa do arquiteto holandês: Gerrith Rieteveld, a casa “Schröder”. A fantástica casa desenhada em 1924-25, cujas paredes correm, outras abrem como portas de varanda. Seria através de um acordo com o Consulado Holandês e entre construtoras holandesa e brasileira. O “NovoMuseu” tinha três palavras abaixo do logotipo: Arte, Arquitetura, Cidade. O design de produtos, a arquitetura e o urbanismo seriam os pontos fortes do museu. Não apenas as freqüentes e comuns exposições itinerantes que rondam os museus. Tinha toda uma filosofia, uma ligação do homem com o seu habitat e o seu em torno.

André Gehlen Ferrari e Felipe Stanque - Você acompanhou plenamente a transição das técnicas analógicas para as digitais no mundo das artes gráficas e do desenho. Como profissional de criação, o que isso representou para o seu trabalho? Tem saudade de alguma técnica hoje não mais usada?
A evolução era inevitável, mas existe um pouco de falácia nesta história que o computador e os seus programas específicos, para uso do design gráfico vieram para mudar tão radicalmente a nossa vida profissional. Afinal, até agora, ninguém faz design gráfico mais bonito ou desenha melhor por causa disso.Claro que na minha área - de design editorial, ilustração e identidade visual - toda esta parafernália tecnológica existe somente para agilizar o andamento das coisas. Preciso de dois programas par cumprir minhas tarefas. É bem verdade que hoje não dependo de um laboratório fotográfico, recebo imagens e textos por e-mail, manipulo, retoco e diagramo páginas sem utilizar sequer um único material de desenho. Há ainda a vantagem de finalizar tudo da forma mais limpa e técnica possível e, depois, empacotar tudo num só CD. Mas a máquina não cria e nem me ajuda a pensar melhor. Portanto, ainda sou insubstituível. Veja, na caligrafia e na ilustração que eu faço em particular, realizada com bico de pena, o computador não serve para nada, a não ser, para colorir ou arquivar a imagem escaneada. Agora, para o designer que trabalha com animação, na criação de jogos eletrônicos, que faz design de produtos e ou webdesign, aí sim, acho que é quase impossível produzir bem sem o auxílio dos equipamentos e programas que a cada dia são mais aperfeiçoados. Um bom exemplo é o da animação fractal: quanto mais técnico você for (leia-se também, quanto melhor e mais avançado for o equipamento) mais competente será o resultado. Como eu ainda continuo a sujar as mãos no pincel, a engatar de quando em quando a ponta da pena no papel, não tenho motivos para sentir saudades. O que não tenho saudade nenhuma, é do past-up , da velha cola de borracha, dos fotolitos remendados e sequer da colagem letra-por-letra, para montar um título Nada como ter fontes digitais, comprá-las através de um simples download na Internet. Viva mais ainda, a gravação de chapa direta enviada de bureaus distantes.

Lucas Vogelmann - Grande parte de seus cartuns expostos no seu blog tem como temática a guerra. Para quem são esses trabalhos?
É verdade, Lucas. Muito cartum de guerra, não é? Estou desafogando o material que fiz para o meu segundo livro de cartuns: “Miran. Um Cara Que Continua Correndo Risco”, cuja capa é predominada por uma foto de uma velha caneta tinteiro e sua pena enferrujada. Vou postar no Blog de cartuns, em junho. Era para ter lançado no final do ano passado mas a coisa apertou, a gráfica que vai fornecer o produto impresso adia para fazer uma coisa lucrativa. Mas sairá até setembro, sem falta! Vou tentar lançar o livro, justo no dia 11 de setembro. Assim, concluo mais 30 cartuns que ainda estão à lápis.

Lucas Vogelmann - Como você vê essa situação de ser um profissional extremamente reconhecido e, ao mesmo tempo, apresentar essa timidez e, principalmente, manter a humildade?

Não sei te responder com muita clareza Lucas, cada pessoa tem as suas virtudes e os seus defeitos, não é? No meu caso é conflitante, pois sempre gostei de dividir as minhas informações com as pessoas, nunca tive inveja dos meus concorrentes, pois até publico seus trabalhos novos ou velhos na minha revista. Como tenho um problema de não me sentir à vontade diante de estranhos, cometo o grave pecado de não poder dividir os meus conhecimentos, as minhas informações frente à frente dos interessados através de uma palestra, de uma roda de debates. Cheguei a fazer algumas vezes, a última, na Bienal de Cerveira (Portugal) em 1988. Em compensação, fiquei dois dias doente. Um antes da palestra, outro depois... Quando cheguei nos cinqüenta e dois anos, adquiri uma espécie de “síndrome do pânico”. Ainda bem que tenho a revista para fazer esta “troca”, tenho a minha biblioteca particular que no ano que vem ou mais tardar, em 2009, abro oficialmente para estudantes. Agora “descobri” o blog para fazer esta troca, esta interatividade, mas me preservando, deixando a minha timidez me engolir de vez!

Lucas Vogelmann - Entre seus trabalhos, nota-se o trabalho para o Novo Museu. Como é para você ver um trabalho seu de tamanha qualidade ser simplesmente descartado e substituído?
Lucas em duas perguntas anteriores, você já está recebendo informações fragmentadas do que foi o “NovoMuseu” para mim. O pior na história do NovoMuseu é a “política” envolvida. Aliás, a política é o grande câncer deste país. Como o prédio e o terreno do “NovoMuseu” é justamente dentro do Centro Cívico ( quer dizer, instalações da maldade burocrática e política ), ele pertence ao governo. Quem estiver governando, manda e desmanda no museu. Para azar nosso, em 2003, quando o “NovoMuseu” com parte totalmente reconstruída e a parte nova edificada, o atual governador Requião, ganhou as eleições (atual porque foi reeleito por 120 votos apenas, de uma cidade do interior). Como ele tem rixa pessoal com o Jayme Lerner, ele sempre procura “demolir” tudo o que o outro constrói. Não é a primeira vez, ele já fizera isso em outros governos e prefeituras que disputaram. Fez com o “Centro de Criatividade”, com o “Zoo”, com o “Parque das Ciências” que ele fechou para guardar trator. No caso específico do NovoMuseu, começou pelo nome. E a minha maior decepção foi o Sr.Oscar Niemeyer. Explico: quando na reunião sobre o batismo, o nome do Museu estávamos todos diante um telão através de um conferência via satélite, o Oscar Niemeyer negou a utilização do seu nome. Quis dar uma de modesto etc. e depois concordou com o novo governador que ganhara a eleição com o apoio do PT, que conseqüentemente tinha o apoio do Lula, que petista agrada o comunista Niemeyer, que... Então, todo o nosso trabalho foi encostado, mas tenho esperanças que ao terminar o mandato do tal Requião, qualquer outro responsável (que não da família do dito. A mulher dele é que é a atual diretora do Museu) venha aceitar a minha implantação visual, pois ela já fora criada pensando no nome do Niemeyer, a jogada do “circulo” vermelho para a letra “O”, que faz o MON etc.

Lucas Vogelmann - Com 16 você concluiu os conhecimentos sobre a técnica da ilustração e das artes gráficas na Famous Artists School - FAS - Course of Commercial Art and Illustration. Como você teve essa oportunidade de estudar no exterior? Seus pais o incentivaram?
Lucas, o FAS era uma escola de arte por correspondência. O nome completo: Famous Artist School - FAS a International Correspondence Course of Commercial Art and Illustration. Com cursos em espanhol ou inglês. Eu tinha apenas 14 anos, quando ganhei o curso de meu tio e padrinho de batismo Hamilton de Souza Miranda, que trabalhava na alfândega portuária de Paranaguá. Ele vira os anúncios na revista “LOOK” em espanhol. Para mim, foi uma grata e valiosa fonte de informação, principalmente para um garoto que só queria saber desenhar e que não via nada no horizonte a não ser ver navios (me perdoem o trocadilho). Acredito que me orientou bem, talvez por isso, eu não seja mau desenhista. Nunca dei muito crédito a este curso até ter 24 anos, quando fui saber de fato que eram os “monstros” que faziam as apostilas, as correções e os livros modelos: George Giusti, Robert Fawcet, Albert Dorne, Robert Peak entre outros. Mais tarde, em 1981, quase chorei, pois fui premiado na Society of Illustrators of New York (exatamente no “Show '22th Annual Exhibition” da SI - os meus trabalhos foram expostos e publicados no livro anual “Illustrators' 22”) conheci o então diretor da associação: Terrence Brown (que lá está, até hoje) e com ele vi no Hall of Fame, as fotos e obras destes meus mentores, veja só!
Felipe Stanque - Dos cursos que você fez no exterior, qual foi o mais significativo? Os mais marcantes para mim, e que tive melhores proveitos, foi o [workshop] da “New York Public Lybrary” (NYPL). “Editorial Art - Books and magazines” que continha workshops com Herb Lubalin e Mo Lebowitz (1980) e o curso “Advertising design and illustration & cartooning” com Harry Borgman na Art School of the Society of Arts and Crafts (atualmente Center for Creatives Studies). No segundo caso, as aulas ministradas por Borgman sobre a técnica do bico de pena.

Felipe Stanque - E dos prêmios que você recebeu no exterior, qual foi o mais gratificante para você?

O primeiro prêmio internacional pela “CA - Design Annual” da Communication Arts magazine em 1978, na categoria Editorial e Promotional design, pelo fato de estar concorrendo com centenas de designers e diretores de arte do mundo todo e saber que o seu design a sua idéia prevaleceu já que, o resultado gráfico do material enviado era visivelmente inferior. Não é como hoje, que é quase impossível você saber a procedência de um trabalho impresso. E todos sabem que a seleção da CA é uma das mais rigorosas.

Lucas Vogelmann - Mas agora, saindo um pouco de seu trabalho, fale um pouco sobre o Fraga, por favor. Quem é ele? Porque aquelas frases no seu blog?

O Fraga [José Guaraci Fraga] é um humorista famoso. Gaúcho. É um redator que circulou o Brasil, foi interino do Millôr Fernandes, na “Isto É” e Jornal do Brasil, confidente e amigo do L.F.Veríssimo para quem se vestiu a caráter para inspirar o “Analista de Bagé”. Inclusive, saiu caracterizado de “Analista” em várias capas dos livros da LP&M. Organizou uma série de exposições de cartunistas do sul do Brasil e coordenou as “Antologias de Humor” vols. 1 e 2 (para quem fiz as capas) Editora LP&M, etc. Para ele diagramei um livro antológico do humor brasileiro: “Punidos Venceremos” que saiu por várias editoras em terceiras e quartas edições. Uma delas pela CODECRI do Pasquim. As frases que utilizo são do livro “Punidos Venceremos”. São realmente geniais! E como acredito que a “aura” boa do meu amigo Fraga é contagiante, faço questão de ter a companhia dele nos meus blogs de cartum e design por que ele oferece também, um toque de “inteligência” aos meus blogs.

André Gehlen Ferrari - O que você pensa que está faltando nos cursos de design do Brasil?

Eu acredito que hoje, os cursos de design no Brasil estão muito bem. Quase todos têm uma razoável infra-estrutura e temos conhecimento dos professores dedicados etc. Sinto apenas (pelo que ouço e me contam) a falta da presença de professores convidados. Deveria ter verba disponível para os professores visitantes estrangeiros e brasileiros. Também deveriam ser dinamizadas as palestras ou mesas redondas com profissionais, mesmo que da “velha guarda”, a presença dos autodidatas que não sejam diplomados mas que possam oferecer valiosos workshops...

Alan Mafalda - Miran, você tem alguma mensagem para os alunos de Design da ULBRA Carazinho quem sonham em ter sucesso como designers?
Não tenho uma mensagem específica, repito o que falei outras vezes, acho que tem designer demais se formando para pouco mercado de trabalho. Quero dizer, “mercado” claramente disponível. A grande maioria sai da faculdade para as agências de publicidade que mal se agüentam em pé. Não vislumbro um mercado muito promissor para o grande número de designers que terão que apanhar uma fatia nada generosa do bolo que aí está servido. Mas se o jovem designer procurar angariar um novo mercado que está surgindo em editoras, lojas de departamentos e grandes Shoppings (é o momento para jovens profissionais montarem os departamentos de arte in-house, como tem nos Estados Unidos. Haja visto o grande volume de dinheiro investido para montarem estas lojas). Está na hora de tirarem este tipo de trabalho em potencial das mãos das agências de publicidade, até por que, eles mal cuidam da parte impressa, do institucional e do varejo interno, o que eles querem mesmo, é faturar através da mídia eletrônica. Os estúdios especializados em websites e as gravadoras médias e pequenas podem ser um bom começo para a futura vida profissional de um jovem designer.


Algumas citações sobre Miran e seu trabalho

Oswaldo Miranda, mais conhecido como Miran, um dos maiores designers do mundo, começou sua carreira ainda nos anos 1970, trabalhando como diretor de arte em “O Raposa”, encarte do jornal Diário do Paraná. Alcançaria a fama, ganhando diversos prêmios e reconhecimento mundial, entrando em contato com designers de renome internacional. Tais contatos, possibilitaram o êxito da exposição de 1982, realizada em Curitiba, que contou com trabalhos na área gráfica de diversos países. O catálogo desta exposição tornou-se, então, o primeiro número da revista Gráfica. Esta publicação, tornou-se um importante canal de intercâmbio entre os trabalhos realizados no Brasil e no exterior, mesclando a apresentação de novos talentos com outros já consagrados. Em 1990, a Gráfica começou a ser distribuída na Europa pela editora suíça Rotovision. A partir de 2001, Miran firmou parceria com a Opera Graphica na produção da revista – que passou a ser distribuída pela Editora Escala.
Opera Graphica Editora.
Acesso em 10 jun. 2007.
A melhor revista de artes gráficas do Brasil, a “Gráfica”, é editada pelo curitibano Osvaldo Miranda, que assina pelo pseudônimo Miran, um craque do traço que não fala com ninguém, nem com os estudantes, muito menos com a imprensa.
Rodrigo Sanfelice, em “Curitibanas: impressões de incursões na capital paranaense”.
Julho de 2002. Acesso em 10 jun. 2007.
Oswaldo Miranda é de Paranaguá/PR [...] É diretor de arte, ilustrador, cartunista e edita a conceituada revista Gráfica. Membro do Clube de Criação de São Paulo, sócio fundador do Clube dos Diretores de Arte do Brasil, do Type Directors Club of New York e do Arts Directors Club de New York. Miran conta com mais de 380 prêmios em design gráfico, sendo 70% internacionais (incluindo no Brasil mais de 25 medalhas de ouro e 35 de prata no Clube de Criação de S. Paulo). Recebeu medalha da Prata na Bienal de Buenos Aires 86/87 (Prêmio: Lápis de Prata), e foi o primeiro brasileiro a ser premiado na Bienal Internacional de BRNO Tcheckoslováquia. Foi também o primeiro designer brasileiro a ser premiado pelo Type Club, CA Annual, A Decade of Type’91, Art Directors Club International Exhibition/New York e pelo Museu do Poster da Alemanha. Como ilustrador, foi o primeiro e único brasileiro a ser premiado na Society of Illustrators of New York. Seus cartuns foram publicados no Pasquim, Ovelha Negra, Folhetim, Zero Hora, Risco, Raposa e Jornal do Brasil, (inclusive com tiras diárias ao lado de Henfil). Em revistas, os cartuns foram publicados na Playboy e na revista Pardon (Alemanha). Expôs em Curitiba, Porto Alegre, São Paulo, Rio de Janeiro, New York, Paris, Montreal, Frankfurt e Tokio. Seus trabalhos em design gráfico fazem parte do acervo de vários museus do Brasil e exterior, entre eles o Cooper-Hewitt Museum (Museu do Design) N.Y. e do Museu do Congresso/Washington.
Alexandre Rampazo, em no web site “Mundo do Design”.
Acesso em 2001.

Extraídas da revista Gráfica #35, na qual é apresentada parte do portfolio de Miran:

Trabalhando com arte-editorial em seu estado natal, o Paraná, no Sul do Brasil, Oswaldo Miranda, conhecido como Miran, é atualmente o artista brasileiro mais conhecido internacionalmente. Um mestre no preto e branco, com uma queda especial pela tipografia.
Editores da “Print Magazine”, EUA.

Seu estilo alegre que rapidamente se transforma em astúcia é, em todo o seu trabalho, com certeza o aspecto mais digno de emulação. Miranda pegou fatores conhecidos, que estavam cuidadosamente ordenados e catalogados em nossas mentes e os viu de uma maneira totalmente nova; sacudiu-os para abrir novas perspectivas. Esta é sua maior proeza; criar um espaço de possibilidades ilimitadas a partir de idéias corriqueiras. É algo realmente digno de um mestre, e esse é exatamente o termo que define Miranda, conhecido como Miran.
Prof. Olaf Leu, para a revista “Novum”, Alemanha.

Quanto ao seu portfolio, ele é extraordinário e estou impressionado com o virtuosismo de seu trabalho. Estou encantado com a oportunidade de ver esta seleção de suas criações.
Saul Bass em carta a Miran.

Para mim, o especial talento de Miran é a sua cabeça inventiva, sua disposição de aventurar e sua magistral habilidade gráfica. Mas é particularmente raro encontrar alguém que possa deslumbrar com o desenho sem ofuscar o significado.
Herb Lubalin para o “UL&C”, EUA.

“Quando Herb Lubalin ainda estava vivo, e preparava artigo sobre você para a U&LC, discutimos seu trabalho. Ambos concordamos que você é um dos mais interessantes e agradáveis designers de hoje, não quero encabulá-lo com meus comentários elogiosos mas, na minha opinião, seu trabalho é de um nível tão alto e marcante que você precisa saber, pelo menos de mim, que tanto Herb Lubalin quanto eu, achamos que você é um dos jovens designers mais brilhantes que já surgiram no cenário do design nos últimos anos”.
Aaron Burns, EUA, em carta/convite para participar do livro “Typographic Communications Today”.


P.S.: Em abril de 2009 a Ana Lúcia Vasconcelos também entrevistou o Miran:

http://www.brazilcartoon.com.br/noticias_descricao.asp?idioma=ptb&grupo=mundo&ID=146

http://www.cronopios.com.br/site/artigos.asp?id=3933




©2007 Felipe Stanque. Permitida reprodução dos conteúdos desde que citada a fonte. As opiniões emitidas pelo entrevistado podem não refletir a opinião do blog, podendo até ser contrárias à mesma.